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A Nossa Luz ao Longo do Caminho

Quando eu conheci o Meow ele era um gato feroz e faminto. Ele frequentemente batia-me e arranhava-me as mãos quando eu colocava o seu prato de comida à frente dele. Mal sabia ele naquele momento que eu não me sentia intimidada pela sua aparência doente e pouco atrativa, nem me ia afastar com a sensação das suas unhas a rasgarem-me a pele. Com razão o Meow não confiava em nenhum humano, o mundo dos humanos apenas lhe trouxeram abandono, negligência e cuidados impróprios.


Eu não ia desistir do Meow. A sua respiração era alta, o som do grande esforço para respirar, algo que devia ser natural e confortável. O seu pelo branco estava sujo devido ao sítio em que ele vivia assim como da sua boca suja e infectada com que ele se tinha que limpar. As suas orelhas estavam tingidas de um forte vermelho devido ao sol e pretas no seu interior devido aos insetos, sujidade e infeção. O Meow era um caso clássico de abandono de gatos de rua e simplesmente esperavam que ele sobrevivesse de restos de comida e ração de gato barata enquanto os galos e galinhas do parque eram mais fortes do que ele e conseguiam comer a maior parte antes sequer dele conseguir acabar ou matar a fome.


O Meow veio comigo para casa onde eu decidi que quer ele fosse gato de rua ou não, ele tinha que recuperar em um ambiente protegido e seguro. Um abcesso explodiu e ele coçou-se de tal maneira que ficou com um buraco do tamanho do meu punho no lado do seu pescoço e que necessitava de limpezas diárias, curativos e medicação para as dores. Com o intuito de melhorar a sua respiração, ele necessitou de tratamentos a vapor todos os dias e antibióticos para lutar contra a sua infeção. Descobrimos que ele tinha pólipos de 3-5cm no seu nariz e ouvido que foram mais tarde removidos. O Meow começou não apenas o seu caminho de recuperação mas também o seu caminho de descoberta e confiança que o amor verdadeiro existe, que o toque humano nem sempre é algo mau e que o sentimento do calor e conforto de um cobertor fofo é algo a que é fácil habituar-se!


Depois de meses de cirurgias não apenas para fechar a sua ferida mas também para remover os pólipos, o Meow estava curado. Ele brincou, correu pela casa, aproveitou a companhia de humanos, viu gatos em acolhimento a vir e ir embora. O Meow aceitou todos os seus irmãos e irmãs adotivos e deixou-os deitar-se ao pé dele no seu cobertor favorito e quente enquanto os confortava e convencia-os de que tudo iria ficar bem. Ele compreendia-os e o processo que era necessário percorrer para tornar um gato de rua em um gato de casa. Ele compreendia que com amor, tudo é possível. O Meow tornou-se amor puro, uma luz que se iluminava todos os dias. O seu pelo estava branco e lindo, ele estava limpo, os seus olhos estavam claros e cheios de vida e esperança. Ele era lindo de se ver não apenas pela sua aparência e pela sua beleza natural mas também pela sua força interior e coragem que o ajudaram nos seus momentos mais duros e dolorosos até chegar onde estava, uma luz pura e radiante que iluminava através de nós. Nós estávamos apaixonados por tudo o que ele era e agradecidos por tudo o que ele nos ensinou.


O tempo do Meow connosco foi curto pois depois de cinco meses gloriosos e depois de se recuperar descobrimos que ele tinha desenvolvido uma grave infecção no seu ouvido. Decidimos fazer uma TAC para ver se tinha mais pólipos ou algo mais que lhes estava a causar dor. Em Novembro foi diagnosticado com uma cancro do osso muito agressivo que estava a atacar o seu ouvido direito, cabeça e nariz. Isto foi algo que provavelmente começou há cerca de um ano atrás e que estava agora em um estado bastante avançado e a destruir tudo o que tinha pela sua frente muito rapidamente. Foi-nos dado muito pouco tempo com o Meow e os últimos momentos do Meow connosco foram memoráveis, com conforto, sem dor e nem um minuto se passou sem se ele sentir o nosso amor, preocupação e constante proteção.


No dia em que o Meow faleceu estava a chover fortemente e um daqueles dias que o tempo não parece dar tréguas da chuva e das nuvens. O tempo era um símbolo perfeito do que estávamos a sentir naquele dia triste e escuro. Apenas minutos depois do Meow nos deixar o sol finalmente rompeu as nuvens e os raios de luz iluminaram a entrada do hospital. Nós sabíamos que ele estava bem. A partir deste momento acreditamos que ele será sempre uma luz no nosso caminho para nos guiar enquanto continuamos a nossa caminhada para ajudar tantos outros como ele. Ele ensinou-nos que mesmo durante as nossas mais duras batalhas e momentos difíceis das nossas vidas, a bondade prevalece. Não há nada mais admirável do que ser bom e ter um coração puro mesmo depois de tanto sofrimento. No final de contas é disto que o mundo necessita, mais Meows, que lutam mais arduamente quando as coisas se tornam mais difíceis, encontram felicidade apesar de todos os desafios, e amam e confiam apesar das memórias passadas de negligência. O Meow é e sempre será o nosso herói.


Em memória do gato que mudou as nossas vidas, abriu os nossos corações e mostrou-nos que a luz quebra sim mesmo os dias mais escuros. Nós amamos-te.



 
 
 

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